
La ruine des Lusos et des Tropicos
A Ruina dos Lusos e dos Tropicos - Projecto Instalativo
O lusotropicalismo, enquanto construção ideológica, projetou-se na arquitetura como uma tentativa de encobrir as violências do colonialismo sob a ilusão de harmonia e miscigenação cultural. No entanto, as estruturas erguidas sob essa premissa carregam consigo o peso da ruína, do abandono e da falácia de uma identidade coletiva imposta. São espaços que, hoje, silenciosamente testemunham a obsolescência de um discurso que nunca foi real.
No Monte Palace, outrora um hotel de luxo nos Açores, a artista encontrou os resquícios materiais dessa narrativa falida. Construído como um símbolo de prosperidade e visão futurista, hoje sua carcaça vazia se dissolve sob a humidade e o abandono, como um epitáfio de concreto ao projeto colonial. As imagens que produziu nesse espaço capturam a interseção entre o artificial e o orgânico, entre o passado e a negligência, onde a natureza reclama aquilo que um dia foi-lhe arrancado.
A poética do abandono ressoa na obra de Viriato da Cruz, poeta angolano, que em "A Menina da Roça" escreve:
“Mas quando lá fora
o vento irado nas fresta chora
e ramos xuaxalha de altas mulembas
e portas bambas batem em massembas
os meninos se apertam de olhos abertos:
– Eué
– É casumbi…”
Tal como essa menina, essas estruturas esperam, sentadas no tempo, ruindo em seu próprio silêncio. A promessa de um progresso inclusivo jamais se concretizou, e restam apenas escombros de um passado que se pretendia perene. A artista levanta questões como: “A minha fotografia, portanto, não apenas documenta, mas interroga: o que fazemos com essas ruínas? Esquecemos, preservamos ou deixamos que a natureza apague os traços da utopia colonial?”
O Monte Palace é um cemitério de sonhos não realizados, um monumento involuntário ao fracasso do lusotropicalismo. Através da lente artista, transforma essas ruínas em espaços de questionamento, onde a ausência se torna narrativa e o abandono se torna história viva.





